Tecnologias Antirracistas foram tema do Encontro Regional de Engenharia e Desenvolvimento Social
O Ereds da região Sudeste aconteceu na Unicamp, entre 31 de maio e 2 de junho
TweetA construção de tecnologias antirracistas foi o tema central do IX Encontro Regional de Engenharia e Desenvolvimento Social - Sudeste (Ereds), que aconteceu entre 31 de maio a 2 de junho, na Unicamp. O evento contou com apoio das Pró-reitorias de Extensão e Cultura (Proec) e de Graduação (PRG), do Centro Acadêmico do Curso de Engenharia Elétrica, Centro Acadêmico Bernardo Sayão, além dos Programas de Extensão Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (ITCP - Unicamp) e Grupo de Extensão Social e Tecnológica (Gesto), da Rede de Engenharia Popular Oswaldo Sevá (Repos) e do Coletivo Dínamo Engenharia Popular.
"A engenharia costuma ser um espaço duro, competitivo, meritocrata, hierárquico. Mas a gente estava num espaço acolhedor, sensível, respeitoso. Foi como viver em outra realidade por alguns dias. Várias pessoas saíram animadas para desenvolver projetos e para organizar os encontros nas suas universidades e foi bom demais sentir que as pessoas saíram com essa animação", afirmou Larissa Medeiros, uma das organizadoras do evento.
"O pouco que se discute o papel social da engenharia, nos nossos cursos, geralmente se coloca que as empresas fazem o intermédio entre sociedade e universidade. O que não é real. Acho que aqui, a gente mostrou como a gente não precisa desse intermédio. A gente pode dialogar com a população, reconhecer demandas, desenvolver coisas conjuntamente, valorizando também os conhecimentos que as pessoas de fora da universidade produzem", concluiu Larissa.
Para o Coordenador Geral de Extensão da Proec, Luís Geraldo Pedroso Meloni, o evento traz contribuições ao processo de curricularização da extensão que está em curso. “Eventos como este são muito oportunos, porque a universidade está passando por um processo de integração da extensão à grade curricular. A partir do catálogo deste ano, já passa a valer a deliberação do MEC, que exige que 10% de toda a grade curricular, de todos os cursos, envolvam atividades extensionistas”, pontuou. Meloni enfatizou a importância de ampliar as possibilidades de inserção dos estudantes na extensão. “Precisamos agora dar escala a esse processo”.
Na mesa de abertura, Clécio Santos, mestre em Engenharia de Sistemas e Computação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e professor de Ciência da Computação no Colégio Pedro II, chamou atenção para a concentração de dados na mão de algumas empresas, que ele chamou “colonialismo de dados”. “Estamos vivendo hoje um novo colonialismo. Precisamos regular as plataformas que já existem e criar alternativas”, argumentou. “Para nós, esse processo é ainda mais nocivo, tendo em vista nossa vulnerabilidade”, comentou apontando para os mecanismos sofisticados de manipulação levados a cabo pela inteligência artificial. “São tecnologias automaticamente discriminatórias”.
“Neguei durante 30 anos da minha vida que eu era preta”, afirmou a Sandra Rufino, professora do Departamento de Engenharia de Produção da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). “Precisamos nomear o que é tecnologia preta. Nomear os atores e as contribuições pretas para o desenvolvimento da sociedade”, ressaltou.
De acordo com Adriana Neneca, catadora de materiais recicláveis há 27 anos e presidente da Cooperativa Santo Expedito, em Campinas, a universidade precisa pensar tecnologias para os pobres, para os pretos, para que as estruturas sociais sejam transformadas. “Cada negro que se forma, pra mim, é uma realização. É a realização do sonho dos nossos ancestrais, que sofreram e lutaram por isso”, afirmou.
Além da Unicamp, participaram do evento USP, UFOP, Unirio, UFRRJ, Unifei, UNEB, UFMG, Casa do Povo, Seduc-SP, ITA, FAM, UFBA, UFSC, UfSCar, UNISA, UFABC, UFV, Sabão do Povo, Frente Estadual pelo Desencarceiramento -SP. Foram 210 inscritos, em sua maioria estudantes de graduação, mas também de ensino básico, pós-graduação, professores, militantes, entre outros.
EREDS
A relação da universidade com este evento é de longa data, tendo sediado outras edições do evento em 2009 e 2014. Os encontros tiveram como principal pauta o papel da engenharia no desenvolvimento de uma sociedade mais justa e igualitária, a partir da relação entre movimentos sociais, poder público e universidades.
A programação desta edição contou com oficinas, espaços para debates e trocas de experiência, visando sempre uma proximidade com a construção de uma engenharia mais popular e solidária. Para mais informações, acesse a página do evento no Instagram.